Minha trajetória como leitora



Por: Beatriz de Oliveira Fernandes

O início de tudo: leitora ouvinte

Quando recordo sobre a minha infância, vem à mente algumas lembranças, duas delas muito importante em minha trajetória como leitora, a primeira é a lembrança de uma creche escola chamada Amor Perfeito, minha mãe trabalha nessa creche e eu estudava lá, nós duas acordamos cedo de segunda a sexta e mantinhamos uma rotina.

Eu chegava a creche e deixa minha mãe em sua jornada de trabalho e segui para a minha sala de aula, lá tive contato com muitos livros e conteúdos enriquecedores, mas nenhum momento em sala foi tão enriquecedor para mim quanto os momentos que eu tinha após as minhas aulas que acabava às 11:30. Era nesse horário que minha mãe iniciava seu horário de almoço, nós duas almoçávamos juntas, conversámos sobre o que eu havia prendido aquele dia e depois do almoço todos os dias quebrávamos aquela velha crendice que diz que ficamos enjoados ao ler depois de comer, pois íamos a sala de leitura da escola, e ela lia para mim todos os dias. E a cada dia mais e mais fui mergulhando nesse universo delicioso que é a literatura, e me tornei uma leitora ouvinte. E como o passar do tempo o horário de almoço da minha mãe se tornou muito pouco pra mim, eu queria que aquele momento continuasse, e assim fui aprendendo a ler com a minha curiosidade de saber o final das histórias que muitas das vezes minha mãe não conseguia terminar. Graças a possibilidade de ter o contato com os livros, e de ter uma mãe que sempre me incentivou eu pude ir além da sala de aula, fui além do método de alfabetização da abelinha que a minha professora usava para me alfabetizar.


A frustração e salvação das leituras no ensino Fundamental

O segunda lembrança que tenho é da segunda série em uma pequena escola pública chama Escola Municipal França Carvalho que funcionava em uma antiga casa que foi cedida para que a escola fosse instalada, era localizada no bairro da Prata no município de Nova Iguaçu, fiquei sabendo que hoje a escola mudou-se para uma instalação muito maior, e agora atende alunos até o 9°ano, que no meu tempo atenia do pré até a 2° série. 

Durante a 1°serie meu contato com a literatura em sala de aula foi muito restrito, me sentia moldada e limitada pela professora, o que para mim era assustadoramente muito diferente de tudo que eu já havia vivido na escola e junto com a minha mãe.
Mas na 2° seria, um anjo chamado Alessandro entrou para a equipe da escola. Ele não era meu professor, nem tão pouco parecia estar familiarizado com aquele ambiente escolar, mas ele tornou prazeroso os 3 anos restante que eu ainda tinha naquela escola. Ele era um homem com cerca de uns 2 metros de altura, gordinho semi-calvo e com a pele muito branca. Conheci ele em umas das inúmeras vezes que fui levada a secretaria por falar demais em sala de aula. Eu tinha necessidade de contar histórias aos amigos de sala, na maioria das vezes eram mentiras, apenas fantasias que a minha mentezinha fértil criava , ou apenas a minha interpretação das histórias contadas pela minha mãe no dia anterior. 

Diferente de todos, esse homem não brigou comigo, ele me pediu para que eu contasse a minha história a ele, e depois ele contava outras para mim, e isso se tornou uma rotina toda vez que a professora resolvia limitar o meu desejo de me expressar. Ele passou a me levar a biblioteca da escola que antes era um lugar restrito apenas aos professoras, e me deixava pegar emprestados os livro que eu quisesse.
Depois desse momento comigo, ele fez um projeto de visita a biblioteca, e eu pude ir com meus amigos uma vez por semana na biblioteca da escola, e isso foi muito significativo pra mim. Hoje percebo o quanto a presença do Alessandro foi importante naquela escola, para que todas as crianças tivessem acesso aos livros, e de certa forma a minha presença na vida dele também foi significativa, pois eu vi ele vencer um mar de preconceitos que um homem inserido na educação pode sentir.


A literatura alimentando sonhos no ensino médio

Sempre tive mais habilidade em me comunicar, em ler e escrever do que lidar com números, cálculos, regras, geometria e outros assuntos chatos das ciências exatas. A leitura e a fantasia serviram para fugir das dificuldades e sonhar, eu lia revista em quadrinhos, contos e fábulas, jornais, livros de romance, auto-ajuda, religiosos, e principalmente de ficção científica). Minha mãe na infância me estimulava a ler nomes de lojas, anúncios, propagandas, manchete de jornal. Já na adolescência ela se preocupava em saber os conteúdos dos meus livros, se eram apropriados para a minha idade para o meu amadurecimento psicológico, mas para minha sorte, muitas das vezes ela se enganava por um título e capa bonita, e eu me deliciava aprendendo coisas novas e matando minha curiosidade do mundo.
A eficiência da escola pública da época associada a minha imersão nos livros, onde encontrava fantasia, sonhava, idealizava uma vida melhor me possibilitaram o que julgo ter sido uma grande conquista, o ingresso na universidade federal, começavam a surgir e também sem atropelos ou traumas. 


Leituras no período universitário

Durante o período universitário as leituras passaram a se restringir àquelas indispensáveis para o bom desempenho da profissão, sendo assim mais de ordem técnica, no meu caso na área pedagógica, formação docente, educação infantil, educação especial, didática, currículo, políticas educacionais, planejamento educacional, educação e trabalho e gestão educacional, passaram a ser o gênero de leitura corriqueiro além de livros ligados ao tema. Deparei-me em uma determinada época com o que classifico de preconceito, pois em uma atividade com uma professora do concurso de superior, uma das perguntas realizadas foi sobre o tamanho de minha biblioteca particular, associado a certo ar de desprezo com minha resposta ao dizer que em função das minhas necessidades não havia um número significativo de livros de doutrina embora minha constante leitura em função da atualização que a dedicação de aluno requer.
Durante esses últimos anos fiquei restrita a este tipo de leitura, sem abandonar a leitura diária de jornais locais, sites jornalísticos e pequenos livros de literatura. Espero que agora terminando a graduação eu volte a me dedicar a leituras de gosto e escolhas pessoais.

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